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terça-feira, 19 de junho de 2012

Estou cansado.

por Gentil Pereira


Estou cansado. Cansei de discutir com cristãos e ateus a verdade tanto de um como a do outro.
Afirmo que o nosso evangelho não é o mesmo que o de Jesus, e o nosso cristianismo não é o do
Cristo pregado em uma cruz para redimir os pecados do mundo. 

O propósito mitologico de um homem santo ter aparecido nesta terra "esquecida 
por Deus" foi o 
de salvar o homem de sí mesmo e não de dar a ele dinheiro, saúde, mulher, casa, 
carro, vida abundante e outras coisas mais...

Cansei de discutir assuntos relevantes com teólogos sábios e inteligentes só para 
me humilharem 
e dizerem que eu não sei nada sobre a bíblia. Quero viver sem culpa, sem peso 
religioso, sem medo do inferno. Não tenho medo do inferno.

Já vivo o inferno em vida todos os dias tentando provar para meus pares que eu não 

sou ateu, não sou herege e não sou assim tão cético. Mas minhas preferências religiosas
 tomam um rumo diferente dos demais.

No entanto só quero abraçar o pobre sem ter que recrimina-lo pela vida que ele leva  dizendo

 que ele vai para o inferno se não aceitar a Jesus... O coitado precisa de comida 
e uma cama para dormir e não de recriminações religiosas como fazemos.

Como cristão é meu dever abraçar os necessitados mas não abraço. 

Como cristão é meu dever visitar os presos mas não visito.

Como cristão é meu dever morrer para mim mesmo mas não morro.
Como cristão é meu dever dar a face esquerda para quem bater na direita, mas faço?

Como cristão é meu dever ouvir mais os necessitados mas mais falo...
Como cristão é meu dever mais dar do que receber, e faço? 

Não!  Estamos sempre querendo mais do Reino dos Céus. 


Que Deus me ajude, pois estou muito cansado.

domingo, 17 de junho de 2012

Minha preferência religiosa.

por Gentil Pereira


Prefiro viver com os pobres a me banquetear com os ricos supérfluos. Aos pobres posso dar o que tenho sem preocupação de retribuição financeira. A retribuição do rico é cobrança futura, e a do pobre é amor e respeito.

Prefiro andar descalço ou de chinelos a sapatinho-de-fogo. Se Deus dá o sapatinho-de-fogo quero o meu de ouro. Mas prefiro chorar com os que choram a rir da desgraça dos outros.

Prefiro visitar os órfãos, viúvas e os encarcerados e não colocar no Facebook a esbanjar sorriso apostólico em uma igreja abarrotada de gente ávida por ver milagres comprados.

Prefiro dormir tarde ouvindo Titãs " Epitáfios"; a perder a noite de sono em louvorzão que não louva nem a mim mesmo que dirá a Deus que quer não sacrifícios mas misericórdia.

Prefiro ser chamado de herege e ter a consciência de estar no caminho certo, a dúvidas e incertezas que me levarão ao inferno-interior em saber o que fazer, mas privar-me de fazê-lo por medo de morrer queimado.

Prefiro estar e ser contado entre as prostitutas, ladrões, mentirosos, doentes mentais, políticos, palmerenses e assassinos a ser visto fazendo média com meus pares, recebendo palmadinhas nas costas.

Prefiro ser contado entre os ateus a bajulação dos religiosos. Longe de mim enxergar de outra forma os leprosos, os ateus, e os viciados, são filhos de Deus sim; seres humanos a serem respeitados e amados.

Prefiro e não seria de outra forma pois a religião é veneno e escraviza a alma e a mente do indivíduo.



Que Deus nos Ajude!

sábado, 16 de junho de 2012

O câncer

por Gentil Pereira

Fui visitar um amigo evangélico assim como eu, que está muito enfermo. Quando o ví jogado naquele leito de dor caí aos pés da cama e chorei. Fiz uma prece em silêncio pois as lágrimas calaram minha voz. O que dizer ao enfermo numa hora dessa quando a morte está a espreita? Muito mais a um homem que a bem pouco mais de dois meses esbanjava saúde, orava pelos enfermos, visitava os presos, as viúvas os órfãos?

E é neste ponto que me detenho pensando nos questionamentos que esse homem pode estar fazendo agora neste momento. A mente deste velho amigo pode estar fervilhando de dúvidas e incertezas causadas na verdade pela religião. "- Foi o pecado do passado, sim só pode ser..."  "-eu estava servindo a Deus errado e agora ele me castiga. É castigo de Deus!"

Eu não tenho resposta para todas as perguntas. Mas o fato é que a vida nos prega peças terríveis e Deus está interessado não na minha doença mas sim como é que eu vou me comportar diante dela. Nestas circunstâncias tenho dois caminhos a escolher. Ou me endureço  diante da dificuldade ou me deixo amolecer. Na maioria das vezes deixamos o azedume tomar conta de nossas almas. Um ateu já disse uma verdade em sua poesia
"tinha uma pedra no caminho" Leiam:

" No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra."
(Carlos Drummond de Andrade)

E o que fazer com essa pedra que está, estava no caminho? Tira-la e continuar o caminho ou subir nela e fazer dela um palanque. Tantas coisas se pode fazer com uma pedra. Davi a usou para derrubar um gigante. Como está fazendo esse meu doce amigo. Aprendendo no sofrimento e nos ensinando na morte a viver dia a dia com amor e gratidão.

Esses dias ele me disse que não merecia tanto amor e carinho. Que muitas vezes foi egoísta e não compartilhou do tempo que tinha e o que fez ao próximo foi tão pouco. Mas em dois meses sem falar uma palavra, deitado e com dores nos transmitiu mais doçura do que em toda a sua vida de amor e gratidão.

Irmão Osvaldo. Só quero dizer que eu te amo e oro para que Deus te dê graça para vencer mais essa batalha interior.

E que Deus nos Ajude!


quinta-feira, 7 de junho de 2012

Europa X Islã.(uma liberdade interrompida)



por Gentil Pereira


Como o assunto me atraiu bastante neste mês, ponho-me a estudar o tema com mais atenção. Alguns tem o Islamismo como uma bomba amarrada ao corpo podendo explodir a qualquer momento; outros vêem os muçulmanos como seres humanos em busca de oportunidades de sobrevivência na Europa e no Brasil. Os discursos são calorosos tanto de um lado como do outro.

Como sempre disse: " Para convencer as pessoas de nossas idéias basta bons argumentos"   Frase que odeio, mas que vem se tornando pura verdade.

É certo que o Islamismo como religião vem crescendo em todo o mundo e que alguns se levantam para reprimir tal religião. No entanto se esquecem que a religião é feita de homens, mulheres e crianças ávidos por sobreviver e nem todos são iguais.

Na defesa da liberdade de expressão no mundo, creio que devemos levantar uma bandeira e haste-a-la  bem alto sem medo de recriminação. Os eleitores suíços(como todo o mundo sabe)aprovaram uma lei islamofóbica proibindo a construção de minaretes no país. Não existe justificativa.

Seria como não permitirem torres de igrejas com sinos em um país majoritariamente islâmico. Afinal, existem igrejas na Turquia, no Egito, na Síria, nos territórios palestinos. Sem falar nas imagens no Líbano, com os minaretes ao lado de cruzes. Certamente, alguns dirão que na Arábia Saudita não existe igreja. Verdade, e seria lamentável a Suíça querer se equiparar a esta monarquia medieval.

Existe também questão dos dois pesos duas medidas.

Na França, proíbem mulheres muçulmanas de cobrir a cabeça. Mas por que apenas as muçulmanas são alvejadas? Lembro que até hoje cristãs cobrem a cabeça em cidades menores da Espanha e da Grécia. Judias ortodoxas usam perucas.

A saída está na liberdade para as pessoas agirem da forma como quiser, como acontece nos Estados Unidos. Se uma mulher for obrigada a cobrir a cabeça por um pai ou irmão, o tema deve ser levado para autoridades. Mas se outra mulher quiser cobrir a cabeça com o véu por iniciativa própria, isto é problema dela apenas.

A decisão da Suíça, que carrega uma cruz em sua bandeira, é uma “desgraça”, conforme bem escreveu o New York Times em editorial de hoje. O jornal acrescenta ainda que os muçulmanos representam apenas 6% da população suíça e são originários de Kosovo e Turquia. Até hoje, não foram registrados problemas envolvendo seguidores do islã no país.

Mas ainda assim lemos aqui e alí atitudes desmedidas de islamofôbicos.

Que Deus nos ajude!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Por que deixei de crer em Deus e como estou voltando a crer nele


Não sou brasileira, mas sou quase. Meus pais Alfons e Helga saíram de Hamburgo em abril de 1990, quando meu irmão Wolfgang e eu éramos crianças de 10 e 3 anos, respectivamente, e se instalaram em Salvador, Bahia. Desde Hamburgo meus pais eram luteranos, e mantiveram a religião na Bahia, apesar da forte presença católica e das religiões afro-brasilienses. Cresci ouvindo falar em Deus como um controlador do universo, a quem os seres humanos devem obediência e medo. Sempre ouvia falar na igreja que Deus é quem permite ou proíbe que as coisas aconteçam em nossa vida. Me lembro de uma vez num sermão o reverendo comparar Deus a um controlador de voo, responsável por manter os aviões no ar. Nesse dia me lembro de ter falado ao meu pai: mas os aviões caem... 

Crescemos e fomos para o bairro da Moóca, em São Paulo, sempre com a visão de Deus como o controlador do Universo. Eu, por ter ido para o Brasil bem nova não tive muitos problemas com o idioma, ao contrário de meu irmão que, assim como meus pais, não entendiam o uso dos artigos e pronomes com substantivos masculinos e femininos, o que os levava a falar coisas com "meu casa", "meu mãe", "minha pai", "a namorado de meu irmã", "meu cunhada" e coisas assim, o que sempre era motivo de piada entre os amigos brasileiros. 

Em 2004, meu irmão resolveu fazer faculdade. Aos 24 anos achou que poderia seguir carreira em São Paulo mesmo, já que meus pais não pensavam em voltar para a Alemanha e ele também não tinha o menor interesse em voltar. Se sentia muito bem no Brasil. Nós no sentíamos bem. Iniciou, em fevereiro, o curso de Publicidade e Propaganda no Presbiteriano Mackenzie, uma das melhores faculdades de São Paulo. Havia acabado de adquirir um carro. Tinha uma belíssima namorada brasileira, que era modelo na época. Ele estava muito feliz com a vida. Falava que era um "quase brasileira", e fazia os amigos rirem com isso. Meu irmão e eu nos dávamos muito bem. Ele era meu melhor amigo e eu era a melhor amiga dele, a ponto de confidenciarmos um com o outro coisas que nem nossos pais sabiam. Ele me ensinou a dirigir e eu o ensinava a falar português. Nós nos amávamos muito. Eu o tinha como um herói, e ele me via como uma boneca de porcelana, com ele mesmo dizia. 

No dia 27 de maio de 2004, ao sair da faculdade, meu irmão foi abordado por três homens que o mandaram entregar o carro. Sem esboçar qualquer reação meu irmão lhes entregou a chave e se afastou. Ao entrar no carro, um dos homens acertou meu irmão com um tiro que foi fatal: na mesma hora ele caiu morto em frente a faculdade. Naquele dia eu perdia uma das pessoas mais importantes da minha vida: Wolfgang Rudolph Jung Hoffmann, o Wolf, meu irmão a quem eu tanto amava, que morreu aos 24 anos. A família entrou em crise: meus pais se desesperaram, meus tios pensaram em fazer justiça com as próprias mãos. Mais ainda: minha crença em Deus se esvaziou por completo. Eu, uma adolescente de 17 anos totalmente descrente de Deus. Me lembro de ter dito: que Deus controlador é esse que permite um rapaz tão cheio de vida como meu irmão morrer de uma forma tão injusta? Ninguém me respondia. Na catedral luterana o reverendo dizia apenas: "deus quis assim". Quis assim como? Ele fica feliz com a desgraça da família dos outros? Onde fica o tal amor que a Bíblia tanto fala?

Para encurtar a história, nos mudamos para o interior de SP em 2004 mesmo e em 2005 voltei para São Paulo, para morar sozinha e iniciar minha vida com meus próprios braços. Em dezembro de 2009 minha família resolveu voltar para Hamburgo, Alemanha. O Brasil, essa terra abençoada de gente alegre, era doloroso demais para minha mãe, que lamenta por ter passado uma tragédia tão grande num país tão bonito. E eu que não tinha nada a perder voltei também, mas agora para Berlin, onde vivo hoje.

Desde que meu irmão se foi perdi totalmente a fé em Deus. Fiquei depressiva. Precise de acompanhamento psiquiátrico. Tive crises emocionais. Tinha momentos terríveis em que precisava ser socorrida por estar em uma crise nervosa. Me lembro de um dia, já em Berlin, durante uma crise emocional onde eu gritava de desespero eu dizer: dá pra sair da minha vida, Deus? Você já me trouxe prejuízos demais. E assim vivi. Não queria correr o risco de crer num Deus que eu pensava proteger os que amo e ter de conviver com novas tragédias. 

Agora, depois de viver e estar totalmente estabilizada aqui, começo a ver Deus de uma outra forma. Li o livro de um teólogo chamado Jurgen Moltmann e venho lendo algumas coisas sobre Deus escritas  por alguns líderes religiosos brasileiros. Um deles é o reverendo Ricardo Gondim, da Igreja Betesda em São Paulo. Estou descobrindo uma outra forma de ver Deus: ele não tem nada a ver com os acontecimentos humanos. Deus não controla nada, mas ama os seres humanos e lhes apoia nos momentos difíceis. Há alguns dias atrás, depois de ouvir um dos sermões do rev. Gondim pela internet cheguei à conclusão: Deus não teve nada a ver com a morte do Wolf, pois ele não permitiu nada, mas foi ele quem me ajudou a aguentar viva quando eu tentei tirar minha vida 15 dias após a morte dele. Comecei a chorar na hora. Pedi perdão a Deus por te-lo culpado pelas desgraças da minha vida. Espero que ele me perdoe por isso! 

Ainda tenho várias dúvidas sobre Deus. E até hoje não me recuperei do trauma da morte do Wolf, mas aos poucos as coisas estão se encaixando. Mas independente de uma coisa e outra agora estou me sentindo melhor comigo mesma. Hoje faz exatamente 8 anos que meu irmão se foi, e é o primeiro ano que passo o dia inteiro sem qualquer crise depressiva. Ainda relembro a cena que vi quando cheguei em frente à faculdade, mas lido melhor com isso. Entendo que todos estamos sujeitos à tragédia.

Espero que esse texto seja mais um passo rumo à cicatrização dessa ferida tão dolorosa. 

 

Ler, tarefa difícil


José Saramago
Leio Saramago. Dono de um texto recheado de percepções sutis, sua pena é ágil. Saramago tem magia, suas provocações tanto se eternizam como se universalizam.
Resolvi copiar um trecho de A Caverna.
Entendo que ler, tarefa difícil, implica em ir além.
Mas qual além?
Deixemos que  o próprio Saramago diga no diálogo entre Cipriano Algor e Marta, a filha:
“Vivi, olhei, li, senti, Que faz aí o ler, Lendo, fica-se a saber quase tudo, Eu também leio, Algo portanto saberás, Agora já não estou certa, Terás então de ler doutra maneira, Como, Não serve a mesma para todos, cada um inventa a sua, a que lhe for própria, há quem leve a vida inteira a ler sem nunca ter conseguido ir mais além da leitura, ficam pegados às página, não percebem que as palavras são apenas pedras postas a atravessar a corrente de um rio, se estão ali é para que possamos chegar à outra margem, a outra margem é que importa, A não ser, A não ser, quê, A não ser que esses tais rios não tenham duas margens, mas muitas, que cada pessoa que lê seja, ele, a sua própria margem, que seja sua, e apenas sua, a margem a que terá que chegar…”
[A Caverna, Cia das Letras, 2011, pg 77]