por Gentil Pereira
PASSAGEM DAS HORAS
"Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero..."
(Fernando Pessoa - Alvaro de Campos)
Eu estou aqui, na esquina da vida a pensar o que haverá de ser mim...
Escondido no escuro do beco só se vê a minha sombra cabisbaixa. Quem me vê pensa que sou um perdido e solitário andarilho, daqueles que se esqueceu quem foi e não tem nem coragem de se lembrar do que era.
Passado o sono, levanto a cabeça ao quebrado das incertezas. Não sei se mereço o que tenho, se por merecimento for para o céu, em vão a morte levou Jesus. Mas aqui estou. Tenho fé e isso já não me basta. Concilio-me a razão. Tornei-me humano.
Frustrei-me com o que sonhei para a minha comunidade. Estou a caminho da esperança. Estou na esquina da vida a ver vitórias que nunca terei, sonhos irrealizáveis. Mas que em fim pude viver humanamente como quem se frustra, perde, chora e ri.
Ainda bem. Que ninguém me acuse de hipócrita daquilo que vivi. Na esquina da vida não me deixei passar. Me gastei e me deixei gastar por aqueles que amo. Ainda sobra em mim partes sóbrias. Quero morrer apedrejado em meio a risos e lágrimas, sonhos e desilusões,esperança e fé, carinhos e xingo.
Pois quê? Isso não acontece só com quem está vivo? Enquanto eu estiver vivo. Que venha a vida na esquina aonde eu paro.
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