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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Deus imerso no humano

Quem é Deus? Por que existe algo ao invés de nada? Estupefatos, contemplamos o céu estrelado, a fúria das marés e inquirimos: Por que a beleza? Diante da mente humana, buscamos entender como nasceu amor e ódio, criatividade e maldade. Onde está Deus? Podemos entender a transcendência absoluta?

A cultura semítica, de onde Jesus formulou os seus conceitos, não especulava, mas se contentava em relacionar-se com Deus como Pai. Judeu nômade, profeta ou sacerdote, não esboçava cartilha para entender a Divindade. Javé não era objeto de estudo, não participava de uma elaboração lógica, dedutiva, que procurava captar mentalmente o ser divino. Na tradição judaica, Deus era crido na dimensão existencial e poética. Eles se contentavam em narrar os atos de Deus na história, na imanência. Não havia preocupação de encaixá-lo em uma racionalidade analógica e dedutiva.

Quando o cristianismo primitivo precisou dialogar com o mundo greco-romano, os Pais da Igreja, geração que sucedeu os apóstolos, mostraram-se cuidadosos em demonstrar que a fé cristã era mais que uma seita judaica. Eles lutavam para que o cristianismo sobrevivesse em um mundo que debatia ideias. A fé, confrontada com o pensamento platônico, não deixaria nada a desejar.

Vários pressupostos filosóficos sobre a Divindade foram então absorvidos pelo cristianismo. Assim como cristianismo influenciou de forma decisiva o Ocidente, o Ocidente também o transformou. A teologia que se consolidou passou a repetir o conceito aristotélico de que a divindade é um “Motor imóvel”. Já que perfeição significava imobilidade na filosofia, Deus era concebido como tão absolutamente perfeito, que nunca poderia experimentar qualquer mudança. Caso mudasse, deixava de ser Deus. Qualquer alteração, para pior ou para melhor, significava não ter, anteriormente, a perfeição absoluta. E um Deus que não fosse perfeito não era Deus.

Quando o cristianismo se espalhou, inúmeros deuses povoavam o mundo antigo - o Panteão estava lotado deles. Ninguém franzia a testa se escutasse sobre a Encarnação. Não espantava acreditar que Deus encarnou e foi visto caminhando pelas estradas poeirentas da Palestina. A dificuldade, a loucura, era afirmar que um contador de histórias, um carpinteiro frágil, manso e amigo de gente imperfeita, era Deus e, pior, havia morrido por mãos humanas.

Isso não era só um paradoxo, mas uma insanidade: Como? Deus morrer? A morte de Jesus, não só demolia o edifício conceitual da filosofia, como se colocava como a contradição mais escandalosa. Essa mensagem correu o mundo. O Transcendente absoluto, o Deus dos deuses, podia ser melhor compreendido olhando para Jesus de Nazaré. As conjecturas gregas não colavam nele. O Filho do Homem não tangenciava Movedor imóvel de Aristóteles.

É preciso retomar a ênfase do cristianismo primitivo. Jesus não se parece com Deus como “Ato Puro”. Em Cristo, Deus não é apático e não está preso pela camisa de força da metafísica. A Divindade se fez gente e mostrou-se comovida de “viscerais afetos” por uma viúva a caminho de enterrar o filho. Chorou diante da sepultura de um amigo (Ah, como a dor humana dói em Deus! – “Em toda a angústia deles, foi ele angustiado” – Isaías 63.9). Irritou-se com a opressão religiosa. Entendeu, e acolheu, as lágrimas de uma prostituta.

Realmente Jesus não se parecia com o que fora dito sobre Deus. A pregação cristã nasceu em cultura distinta da helênica. O Reino que Jesus anunciou não encontrava paralelo na cultura, nos mitos, nas tragédias. O Deus de Jesus estava além do alcance de poderosos e sábios; mas podia ser intuído por puros de coração, crianças e marginalizados. Para detectar réstias do mundo espiritual, era preciso ouvir o inaudível, ver o imperceptível, tocar no intangível. Grãos de mostarda, ovelhas indefesas, gente inoperante, escravos inúteis, pecadores indignos, filhos pródigos, prostitutas, leprosos, cegos, mendigos, exorcistas informais, lírios e pardais, compunham o mosaico que revela Deus.

Jesus não se fantasiou, não encarnou por um breve período, mas assumiu a contingência humana com todas as consequências, inclusive a de morrer. Exageradamente humano, libertou homens e mulheres da exigência de se tornarem deuses - A plenitude da Divindade habitou em Jesus de Nazaré. Deus mostrou-se imerso no humano. Não era preciso procurá-lo na trans-história, no sobrenatural, mas na vida. “O Reino de Deus chegou!” Jesus foi a revelação mais próxima que jamais teremos de Deus, que escolheu vulnerabilizar-se em seu amor.

Outras divindades podem ser descartadas como ídolos.

Soli Deo Gloria

por Ricardo

O mistério de nossa humanidade

Como idealizei as pessoas que participaram de minha vida! Quando eu era criança, papai parecia inabalável. Eu o via grande; suas mãos eram fortes, seus passos, decididos.

Mais tarde, elegi ícones nos esportes. Depois, na religião. Mas um dia meu velho estava bastante doente, alquebrado pela Síndrome de Alzheimer, e eu precisei descê-lo dentro de uma lona de quatro alças pelas escadas do seu apartamento. Do Eródoto José Rodrigues sobrava muito pouco. Enquanto descíamos, vi seu corpo balançando, decrépito e magro. A rede empunhada por quatro homens o jogava de um lado para outro; a valsa era macabra. Lembrei de quando segurava sua mão e me sentia amparado. A decadência física de meu pai escancarava quão efêmeros nós somos. Daquele dia em diante passei a repetir: ninguém é inabalável em sua subjetividade emocional; as mais sólidas convicções intelectuais sofrem abalos; nenhuma pretensão moral é de aço inoxidável.

Não existem monstros ou santos. Todos somos flamas oscilantes. Carregamos sombras na alma. Não passamos da combinação ingênua de noviços, ineptos em abraçar o bem, e de bandoleiros, hesitantes na prática do mal.

Viver consiste no desafio de alargar o coração e deixar que réstias de luz iluminem as nossas sombras. Não permitamos que trevas se alastrem dentro da gente. Demônios tenebrosos se multiplicam em ambientes lúgubres. No alto da colina da ilha chamada vida, sejamos lanterneiros, sempre a projetar nosso farol na direção de algum viajante perdido. Não esqueçamos: só se credencia a morar no céu quem, na terra, não abandonou o mandato de ser luz.

Fujamos do ar viciado do negativismo. Aprendamos a talhar nossa história sem nos deixar destruir pela perversidade do mundo. Perseveremos em fazer o bem. Os cínicos desistem da lida; os pessimistas ajudam a empurrar a história para o desespero; e os neofundamentalistas tentam fazer nascer, a fórcipes, um mundo desde as suas verdades. Forjemos a nossa humanidade com a constatação de que somos limitados. Esvaziemos a arrogância de ter toda a verdade. A verdade reside na democrática convivência dos povos.

Reconheçamos que cada indivíduo é um universo; suas relações sociais são infinitas. Não tentemos imobilizar a dinâmica da cultura ou da ética. Bem e mal se transformam velozmente. A tarefa de joeirar virtude e vício é complexa. Não há códigos suficientes que abarquem todas as nuanças da vida. Crescemos quando nos abrimos para uma coexistência inclusiva, sem preconceitos e sem ódios. Viver é amadurecer a arte do diálogo. Ao caminharmos na senda do amor, reconheceremos Deus no rosto do próximo.

Os que almejam humanidade fazem escolhas responsáveis; só eles discernem que o futuro jaz, latente, nos grãos plantados hoje. Só germinarão fraternidade e paz quando justiça for semeada. As máquinas de guerra devem ser desmontadas para que, logo, o arado substitua a espada e o cordeiro não tema pastar ao lado do leão.

Humanidade é obra que só pertence a nós, os humanos. Então, que se abandone a ideia de que o bem ressurgirá da ganância, do consumismo, do individualismo e da soberba.

Ergamos a nossa humanidade sempre cientes de nossa pequenez. Sem a soberba dos falsos campeões, celebremos cada encontro. Valorizemos quem amamos. Acolhamos os discriminados, os deficientes, os esquecidos. Contemplemos a história como artesãos que limam o ouro. Defendamos o direito, demos as mãos ao pobre e aguardemos: breve brilhará o sol da justiça, trazendo cura sob suas asas.

Soli Deo Gloria.

por Ricardo

O colapso do Movimento Evangélico

Dois pastores paulistas se fantasiam de Fred e Barney. Isso mesmo, fantasiados de Flintstone, entre gracejos ridículos, acreditam que estão sendo "usados por Deus para salvar almas". Na rádio, um apóstolo ordena que tragam todos os defuntos daquele dia, pois ele sente que Deus o "ungiu para ressuscitar mortos".

Os jornais denunciam dois políticos de Minas Gerais, "eleitos por suas denominações para representar os interesses dos crentes", como suspeitos de assassinato. O rosário se alonga: oração para abençoar dinheiro de corrupção; prisão nos Estados Unidos por contrabando de dinheiro, flagrante de missionários por tráfico de armas; conivência de pastores cariocas com chefões da cocaína .

Fica claro para qualquer leigo: O movimento Evangélico brasileiro se esboroa. O processo de falência, agudo, causa vexame. Alguns já nem identificam os evangélicos como protestantes. As pilastras que alicerçaram o protestantismo vêm sendo sistematicamente abaladas pelo segmento conhecido como neopentecostal. Como um trator de esteiras, o neopentecostalismo cresce passa por cima da história, descarta tradições e liturgias e se reinventa dentro das lógicas do mercado. É um novo fenômeno religioso.

É possível, sim, separá-lo como uma nova tendência. Sobram razões para afirmar-se que o neopentecostalismo deixou de ser protestante ou até mesmo evangélico.É uma nova religião. Uma religião simplória na resposta aos problemas nacionais, supersticiosa na prática espiritual, obscurantista na concepção de mundo, imediatista nas promessas irreais e guetoizada em seu diálogo cultural.

Mas a influência do neopentecostalismo já transbordou para o "mainstream" prostestante. O neopentecostalismo fermentou as igrejas consideradas históricas. Elas também se vêem obrigadas a explicar quase dominicalmente se aderiram ou não aos conceito mágicos das preces. Recentemente, uma igreja batista tradicional promoveu uma "Maratona de Oração pela Salvação de Filhos Desviados".

Pentecostais clássicos, como a Assembléia de Deus, estão tão saturados pela teologia neopentecostal que pastores, inadvertidamente, repetem jargões e prometem que a vida de um verdadeiro crente fica protegida dentro de engrenagens de causa-e-efeito. Os "ungidos" afirmam que sabem fazer "fluir as bênçãos de Deus". É comum ouvir de pregadores pentecostais que vão ensinar a "oração que move o braço de Deus”.

O Movimento Evangélico implode. Sua implosão é visceral. Distanciou-se de dois alicerces cristãos básicos, graça e fé. Ao afastar-se destes dois alicerces fundamentais do cristianismo, permitiu que se abrisse essa fenda histórica com a tradição apostólica.

1. A teologia da Graça

Desde a Reforma, protestantes e católicos passaram a trabalhar a Graça como pedra de arranque de um novo cristianismo. O texto bíblico, “o justo viverá da fé”, acendeu o rastilho de pólvora que alterou a cosmovisão herdada da Idade Média. A Graça impulsionou o cristianismo para tempos mais leves. Foi a Graça que acabou com a lógica retributiva que mostrava Deus como um bedel a exigir penitência. Devido a Graça entendeu-se que a sua ira não precisa ser contida. O cristianismo medieval fora infectado por um paganismo pessimista e, por isso, sobravam espertalhões vendendo relíquias e objetos milagrosos que, segundo a pregação, “ garantiam salvação e abriam as janelas da bênção celestial”.

Lutero, um monge agostiniano, portanto católico, percebeu que o amor de Deus não podia ser provocado por rito, prece, pagamento ou penitência. Graça, para Lutero, significava a iniciativa de Deus, constante, unilateral e gratuita, de permanecer simpático com a humanidade. Lutero intuiu que Deus não permanecia de braços cruzados, cenho franzido, à espera de que homens e mulheres o motivassem a amar. O monge escancarou: as indulgências eram um embuste. Assim, Lutero solapava o poder da igreja que se autoproclamava gerente dos favores divinos.

Passados tantos séculos, o movimento neopentecostal, responsável pelas maiores fatias de crescimento entre evangélicos, abandonou a pregação da Graça. (É preciso ressaltar, de passagem, que o conceito da Graça pode até constar em compêndios teológicos, mas não significa quase nada no dia-a-dia dos sujeitos religiosos).

Os neopentecostais retrocederam ao catolicismo medieval. É pre-moderna a religiosidade que estimula valer-se de amuletos “como ponto de contato para a fé”; fazerem-se votos financeiros para “abrir as portras do céu”; “pagar o preço” para alcançar as promessas de Deus. Desse modo, a magia espiritual da Idade Média se disfarçou de piedade. A prática da maioria dos crentes hoje se concentra em aprender a controlar o mundo sobrenatural. Qual o objetivo? Alcançar prosperidade ou resolver problemas existenciais.

2. A compreensão da Fé

“A Piedade Pervertida” (Grapho Editores) de Ricardo Quadros Gouvêa é um trabalho primoroso que explica a influência do fundamentalismo entre evangélicos.

“O louvorzão, assim como as vigílias e as reuniões de oração, e até mesmo o mais simples culto de domingo, muitas vezes não passam de um tipo de superstição que beira a feitiçaria, uma vez que ele é realizado com o intuito de ‘forçar’ uma ação benévola da parte de Deus, como se o culto e o louvor fossem um ‘sacrifício’, como os antigos sacrifícios pagãos. Neste caso, não temos mais liturgias, mas sim teurgias, nas quais procura-se manipular o poder de Deus” (p.28).

Ora, enquanto fé permanecer como uma “alavanca que move os céus”, as liturgias continuarão centradas na capacidade de tornar a oração mais eficaz. Antes dos neopentecostais, o Movimento Evangélico já se distanciara dos Místicos históricos que praticavam a oração com um exercício de contemplação e não como ferramenta de como tornar Deus mais útil.

Fé não é uma força que se projeta na direção do Eterno. Fé não desata os nós que impedem bênçãos. Fé é coragem de enfrentar a vida sem qualquer favor especial. Fé é confiança de que os valores de Cristo são suficientes no enfrentamento das contingências existenciais. Fé aposta no seguimento de Cristo; seguir a Cristo é um projeto de vida fascinante.

O neopentecostalismo ganhou visibilidade midiática, alastrou-se nas camadas populares e se tornou um movimento de massa. Por mais que os evangélicos conservadores não admitam, o neopentecostalismo passou a ser matriz de uma nova maneira de conceber as relações com o Divino.

A alternativa para o rolo compressor do neopentecostalismo só acontecerá quando houver coragem de romper com dogmatismos e com os anseios de resolver os problemas da vida pela magia.

O caminho parece longo, mas uma tênue luz já desponta no horizonte, e isso é animador.

Soli Deo Gloria

por Ricardo

Que Deus nos ajude!

domingo, 19 de setembro de 2010

SENHOR, OBRIGADO PELO HEREGE!

Minha admiração pelos hereges é indisfarçável. Eles mexem com os meus desejos mais escondidos. São capazes de me sensibilizar mais que quaisquer outros. Falam a minha alma. Adrenalizam meus pensamentos. Suas déias desconcertantes é que me fazem continuar vivo.

Eu confesso, preciso de suas heresias como da endorfina espalhada pelo meu corpo ao fim de cada corrida. Como um prazer vital. A estética da alma. A cada exercício fico suado e mais feliz. A cada heresia, desestabilizado e mais humano.

Mas antes que minha declaração de amor e gratidão aos hereges seja confundida com um delírio, preciso expor meus motivos e compreensões. Estou certo de que ganharei sua companhia em meus afetos.

Heresia é uma escolha e essa é a sua gravidade. A conceituação não é aleatória. A palavra grega para a ‘heresia’ que conhecemos é /haíresis/, seu significado literal é ‘escolha’. Heresia é como chamamos algo que não deveria ser escolhido como algo a dizer. Herege é o que faz a escolha que, mesmo podendo ser feita, não deveria.

Mas heresia nunca é um nome que quem nela incorre se dá. É uma palavra que apenas se encontra na boca de quem se sente contrariado, nunca na boca de quem contraria. Herege não é como quer se sentir quem discorda de um pensamento.

Herege é como quem sofre a oposição de idéias precisa que se sinta quem ousa fazê-lo. Porque a escolha feita por quem sofre a sentença de que é um herege é a escolha de não se submeter à hegemonia representada por quem pode assim sentenciar. Portanto, heresia não é uma questão sobre a verdade das coisas. Mas sobre quem manda de verdade.

Rubem Alves fala dos fortes e dos fracos como uma relação marcada pela heresia. “A heresia é a voz dos fracos. Do ponto de vista dos sacerdotes, os profetas sempre foram hereges. Do ponto de vista dos fariseus e escribas, Jesus foi também herege. E, como as Escrituras sistematicamente se situam ao lado dos fracos contra os fortes, é melhor dar mais atenção às heresias do que às ortodoxias.

É preciso situar a heresia, portanto, nas relações de poder. Quem levanta a suspeita de heresia não é quem está ingenuamente interessado na verdade, mas quem precisa se livrar de alguém que ameaça sua condição de dono da razão. O herege assalta o que se sente no direito de ter a última palavra.

Quem se sente com a última palavra é aquele que pratica o poder mais que o pensamento. Quem pratica o poder busca sempre se afirmar em detrimento do outro, do diferente. É preciso esvaziar de valor aquele que ameaça sua condição de superioridade.

Declarar que alguém é um herege é bem mais que dizer que ele discorda de suas idéias. Mas é fazer convergir sobre ele toda a violência acumulada em uma sociedade por seus medos, culpas, inadequações, acidentes, injustiças, frustrações. O herege é como o “bode expiatório” de René Girard. Alguém sobre quem incide a violência de todos em um acordo social silencioso, em uma compensação inconsciente.

Como aconteceu na tradição cristã com a personagem Judas Escariotes, aquele que traiu. Todos vacilaram e negaram fidelidade a Jesus, mas apenas Judas encarnou, no imaginário coletivo, o mal da humanidade. Como as bruxas na Idade Média, responsabilizadas por todas as desventuras de uma sociedade, eliminá-las era livrar-se do próprio mal humano.

Com o herege parece ser repetida a mesma mística coletiva e
inconsciente. Ele é o culpado pela instabilidade da vida. Declará-lo
herege é eliminá-lo de sua influência no destino de uma comunidade, como quem se livra do próprio mal da humanidade. Em uma sociedade ocidental do século XXI a fogueira tornou-se simbólica, mas não menos violenta. Destruído em sua integridade, o herege tem sua humanidade apagada. Suas palavras são pulverizadas e perdem o poder legítimo de interação.

Alguém sob a suspeita de heresia é sempre ouvido por todos com pedras nas mãos. Como nas cenas freqüentes dos evangelhos, quando os religiosos acusavam Jesus de blasfemar contra Deus ao se afirmar como um ser que sua religião não concebia: Filho de Deus. Em suas mãos, registra bem o detalhe quem narra, já estavam as pedras preparadas para serem desferidas em punição contra o blasfemo. O herege é alguém cujas idéias são ouvidas com as pedras nas mãos.

Há quatro palavras que precisam se associar para uma melhor compreensão do fenômeno herege. Instituição, ortodoxia, contingência e heresia.A instituição é via de mão única para um ser finito não entrar em inércia. Ninguém segue em frente em nenhum projeto ou relação sem institucionalizar.

Ninguém precisa parar e organizar friamente uma instituição para que ela surja. Basta seguir em frente no desenvolvimento natural de qualquer projeto ou relação.

Porque instituir é estabelecer a memória de uma viagem feita em comum com outros viajantes. Esta memória é constituída pelos hábitos, critérios, compromissos, regras, objetivos e teorias confeccionados ao longo do caminho. Eles são o mapa do caminho que já se fez e o que ainda precisa ser feito.

Sem esses valores nos transformamos em Sísifos, cujos trabalhos nunca se concluem. Sísifo foi o deus da mitologia grega conhecido por sua esperteza.

Por várias vezes conseguiu enganar /Tanatos /e /Hades/, deuses da morte e dos mortos. Ao morrer de velhice, Sísifo foi condenado a rolar montanha acima uma pedra de mármore. Cada vez que se aproximava do topo a pedra rolava montanha abaixo de novo com uma força insuperável, obrigando a começar de novo sem nunca terminar a tarefa.

Uma instituição é assim. Uma igreja, para falar mais de perto, precisa de uma programação a ser cumprida como uma agenda sagrada. São seus cultos. De uma linguagem que expresse suas crenças nos cultos. É a sua liturgia. De um conteúdo que responda aos seus questionamentos. É a sua pregação. De idéias que solidifiquem sua fé.

São seus dogmas. De pessoas que zelem por seus valores. É a sua hierarquia. É a memória que se cria ao longo de um caminho de fé compartilhado. Esta memória é que dará condição de sustentar um projeto com o passar do tempo, conquistando a confiança daqueles que a ele aderem e que anseiam por estabilidade. Esta adesão em busca de estabilidade é que autoriza a instituição.

A autoridade de uma instituição é o modo como é mistificada. A
instituição, seja ela casamento, igreja, estado, partido político,
agremiação, clube, faz o discurso, sempre e necessariamente, convincente de que é a resposta mais confiável para satisfazer determinadas necessidades ou aspirações. É a resposta persuasiva de que veio para ficar de tão pertinente.

O que a torna, então, um valor que precisa ser religiosamente perpetuado, com o risco de se desperdiçar algo essencial para a vida. Não demoram tanto, muitos estarão persuadidos sobre sua hegemonia: ela é a melhor resposta.

Sua perpetuidade: parece que sempre foi assim e, portanto, não deve ser de outro jeito. Sua heteronomia (uma regra que vem de outro): um deus a determinou, logo, é sagrada. Sua intocabilidade: opor-se a ela é quebrar um ciclo sagrado e, por isso, provocar a ira dos deuses, ou de Deus.

Mas curiosamente, a força que a torna necessária, a princípio, é a mesma que a fará questionável, depois. A contingência. Essa é a dinâmica da vida, sua “irresistível leveza de ser”, como no romance de Milan Kundera. A vida é fluida demais para ser emoldurada por uma instituição. O que hoje é, amanhã não mais será. Lulu Santos e Nelson Mota compuseram uma das mais belas canções que conheço: “Como uma onda no mar”, nela os poetas retratam a fluidez da vida. Uma de suas estrofes diz: “Tudo o que se vê não é/ Igual ao que a gente viu a um segundo/ Tudo muda o tempo todo no mundo/ Não adianta fugir/ nem mentir pra si mesmo agora/ Há tanta vida lá fora/ Aqui dentro sempre/ Como uma onda no mar!”

A vida não se repete. É inédita, imprevisível e incontrolável. As necessidades que geraram determinada instituição e suas respostas ou deixam de existir ou mudam.

Tornam-se mais complexas ou sem importância diante das outras e novas necessidades. Se mudam as necessidades, ou se deixam de
existir para existirem outras, mudam também as perguntas ou novas questões se impõem. É nessa dinâmica que surgem os hereges, “como uma onda no mar”. Como aqueles que ousam sugerir as novas respostas para as perguntas que ninguém quer ouvir. Quebram o encanto da estabilidade falando do que não estava previsto ou do que não era plausível dentro das teorias da instituição.

O herege é um desritmado. Todos dançam na mística do que está
instituído, em seu único ritmo. O herege por razões várias sai do ritmo. Viveu uma crise, divagou em um insight, sentiu-se entediado e insatisfeito, intuiu variações possíveis.

Qualquer ou quaisquer coisas que quebrem a seqüência e a unanimidade podem fazê-lo perceber o diferente. Ao sair do ritmo descobre uma nova possibilidade de dançar no mesmo salão. Descobre o improviso e o contratempo. Percebe que é possível, faz sentido e é bom ser diferente.

Thomas Kuhn chama o fenômeno que inicia a quebra de um paradigma de anomalia, um fator não explicado satisfatoriamente pela Ciência Normal. Até que um cientista, desprovido de muitas explicações, movido mais por intuição que por certeza, arrisca uma outra e heterodoxa explicação.

Logo terá em torno de si outros cientistas que também trabalharão com o candidato a novo paradigma até que ele venha a se tornar a Ciência Normal. O herege é como o cientista que, diante do acúmulo de perguntas não respondidas, destoa arriscadamente do modo como se vinha fazendo e explicando as coisas.

Mas há ainda outra palavra a ser associada para a compreensão do
fenômeno herege, a ortodoxia. Ela é o discurso a serviço da instituição.

Tem o seu bom valor em seu tempo real. Em determinadas condições aquelas respostas eram boas o bastante para serem levadas a sério e às últimas conseqüências. Ninguém constrói uma crença sem acreditar que ela faz sentido, que precisa ser ampliada e deve ganhar a coerência interna de seus argumentos.

Tanto quanto é relevante o bastante para ser objeto de persuasão do maior número de pessoas. Mas o grande problema da ortodoxia não é ela mesma e sim os ortodoxos.

Os ortodoxos são aqueles que atrelam ao discurso da ortodoxia seus valores pessoais. Um discurso feito sempre se confunde com o valor próprio de quem o publica. Quem doutrina sente a necessidade de perpetuar o pensamento ora defendido como quem salva a própria pele. São os ortodoxos que por auto-afirmação precisam sustentar a hegemonia de um pensamento: uma ortodoxia.

A perpetuação de uma doutrina a todo custo é sempre auto-perpetuação. Os estudiosos da psicologia interativa tratam da relação da fala com as paixões ideológicas. Uma vez que alguém se pronuncie a favor de determinada posição tende a associá-la a seu valor pessoal e, em defesa deste valor, lutar incansavelmente. Por isso o engajamento e a passionalidade. Certamente é por essa razão que quando alguém discorda de uma ortodoxia sofre uma reação tão violenta dos ortodoxos. Porque feriu sua própria carne.

Sem os ortodoxos a ortodoxia seguiria seu curso finito e natural: a
morte. Mas como a morte de uma ortodoxia é o fim dos valores de um ortodoxo e de sua auto-perpetuação, é preciso impedi-la como quem luta contra a própria morte.

Com o desenvolvimento das novas tecnologias na medicina, passamos a conviver com mais uma difícil ambigüidade. Algumas pessoas, ao fim anunciado de suas vidas, que já deram sinais de extrema debilidade física e, às vezes, de morte ‘existencial’, porque já não mais respondem às conversas, nem demonstram qualquer afetação emocional, mas estão tecnicamente vivas, sobrevivem mecanicamente.

São assim mantidas pelo enorme recurso tecnológico da ciência médica, com os antibióticos cada vez mais potentes, os aparelhos que substituem o funcionamento de órgãos vitais e o monitoramento fino que rastreia qualquer aproximação da morte. É a morte adiada. A complexidade está em definir até que ponto se pode manter um corpo vivo artificialmente sem o comprometimento ético da vida.

Afinal de contas somos seres finitos e a morte é o destino natural de todos. Fico sempre com a sensação de que se macula a dignidade de quem precisa se despedir com naturalidade da vida, mas é tecnicamente impedido.

Decidir por não usar recursos que vão apenas adiar a morte e protelar uma vida vegetativa, já tão bem anunciada, é muito difícil. Mas pode ser uma alternativa mais digna e, por que não, mais reverente à vida. Sei que o assunto é mais complexo do que minha intenção de que apenas sirva como ilustração.

A ortodoxia parece seguir a mesma terrível ambigüidade. Já não responde mais ao seu tempo como outrora. Tem aporias diversas em seu interior que comprometem sua pertinência. Não se comunica mais com as pessoas ao seu redor. Mas é mantida viva pela mística da instituição e o monitoramento zeloso dos ortodoxos.
A ortodoxia morre existencialmente, asfixia quem a ela está sujeito, combate com altas doses de apologia seus oponentes, mantém com culpa muitos ao redor de si e impede que a vida prossiga com a fluidez que a torna tão surpreendente e bela.

A heresia é a reverência à vida quando se escolhe não adiar a morte de uma ortodoxia. São as línguas confundidas do mito da Torre de Babel na Bíblia. Desaba a torre com suas pretensões de poder eterno, mas a vida se espalha sobre a terra em sua rica diversidade.
A confusão da linguagem libertou a humanidade da escravidão da ortodoxia. E no mito babélico, Deus é o grande herege: /“Vinde! Desçamos! Confundamos a sua linguagem para que não mais se entendam uns aos outros. (...)Deu-se-lhe por isso o nome de Babel, pois foi lá que Iahweh confundiu a linguagem de todos os habitantes da terra e foi lá que ele os dispersou sobre toda a face da terra.

Mas não foi a primeira e a única vez que Deus agiu hereticamente ou se colocou ao lado dos hereges. A história dos profetas confirma a sacralidade das heresias. Chama à atenção a profecia de Jeremias.

Enquanto grassa entre o povo a idéia otimista de que tudo estava bem e que o futuro seria de paz e prosperidade, Jeremias contrapõe. Denuncia as ruínas da nação dos judeus e anuncia a tragédia que bate a porta.

Todos se revoltam, alguém feriu a ortodoxia de uma ilusão. O profeta herege é lançado ao calabouço para que a sua voz não fale o que todos não aceitam que se diga. Somente depois, tudo o que o profeta-herege vaticinou fez sentido na mente de todos. Sem sua heresia, sequer haveria lucidez e aprendizado no meio da destruição da nação. Mas essa história é a história freqüente dos profetas, razão porque Deus se queixou do modo como o povo perseguia os profetas.

Mas a maior e redentora heresia de todos os tempos foi a encarnação de Deus. Deus feito gente, Cristo Jesus. Sua relação com a ortodoxia de então foi de profunda tensão: /“ele veio para o que era seu e os seus não o receberam. Mas a todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus: aos que crêem em seu nome.”

Jesus não foi o que a ortodoxia de sua religião e cultura determinava que fosse, uma reafirmação sobrenatural e violenta do judaísmo frente ao poder ultrajante dos romanos. Ele foi uma negação pacífica e radicalmente humana da pretensão sempre perversa de qualquer tipo de dominação sobre quem quer seja.

Não foi pela prática da força que Jesus anunciou a chegada do Reino de Deus. Ele escolheu praticar a fraqueza em uma cultura de forças, o amor que amadurece contra o poder que infantiliza. Acolheu a humilhação em uma disputa cujas armas eram a imponência e a ovação popular. Espalhava quando todos queriam aderir. Escondia-se quando todos reivindicavam visibilidade. Pedia silêncio quando os resultados serviam a mais poderosa propaganda.
Questionava e afligia as mentes quando muitos pressionavam pelas respostas simplistas e conclusivas. Era agressivo quando o mais politicamente estratégico era a polidez. Era Jesus quando todos esperavam um outro Cristo.

Jesus foi o vinho novo que reivindicou um novo odre, ou um tecido novo em negação aos remendos que apenas adiavam o fim de uma cultura e espiritualidade esgarçadas por suas contradições.

A cruz era a mão mais pesada do poder dominante. A mão forte do Império que só se justificava contra a mais terrível ameaça. Tanta força e violência convergindo sobre alguém tão frágil e suscetível – / "como uma ovelha muda que vai para o matadouro”, que não desejou os tronos instituídos de Roma ou dos judeus, tiveram ação reversa.

Refluíram contra os próprios autores, contra os poderosos de Roma e dos Judeus, como uma exibição de sua mesquinhez e tolice. A morte de Jesus foi a vitória da vida contra as forças mórbidas da ortodoxia. O Cristo morto desmascarou o perverso e tolo poder das instituições e ortodoxias sobre a vida e libertou a humanidade de sua tirania. O que parecia um poder inquestionável tornou-se um poder idiotizado.

A ressurreição de Jesus é muito mais que a vingança de Deus contra o mal. A ressurreição é insurreição. É Deus se insurgindo ao nosso lado contra toda e qualquer forma de sentença final sobre a vida humana.

Jesus ressuscitando é Deus se insurgindo a favor da vida. Contra todas as forças que pretendem congelar a vida para perpetuar poderosos. A ressurreição é a heresia de Deus contra a ortodoxia da morte.

Por isso, Senhor, obrigado pela heresia.

( Elienai Cabral Junior )

sábado, 18 de setembro de 2010

Na esquina da vida

por Gentil Pereira

PASSAGEM DAS HORAS

"Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero..."
(Fernando Pessoa - Alvaro de Campos)

Eu estou aqui, na esquina da vida a pensar o que haverá de ser mim...
Escondido no escuro do beco só se vê a minha sombra cabisbaixa. Quem me vê pensa que sou um perdido e solitário andarilho, daqueles que se esqueceu quem foi e não tem nem coragem de se lembrar do que era.

Passado o sono, levanto a cabeça ao quebrado das incertezas. Não sei se mereço o que tenho, se por merecimento for para o céu, em vão a morte levou Jesus. Mas aqui estou. Tenho fé e isso já não me basta. Concilio-me a razão. Tornei-me humano.

Frustrei-me com o que sonhei para a minha comunidade. Estou a caminho da esperança. Estou na esquina da vida a ver vitórias que nunca terei, sonhos irrealizáveis. Mas que em fim pude viver humanamente como quem se frustra, perde, chora e ri.

Ainda bem. Que ninguém me acuse de hipócrita daquilo que vivi. Na esquina da vida não me deixei passar. Me gastei e me deixei gastar por aqueles que amo. Ainda sobra em mim partes sóbrias. Quero morrer apedrejado em meio a risos e lágrimas, sonhos e desilusões,esperança e fé, carinhos e xingo.

Pois quê? Isso não acontece só com quem está vivo? Enquanto eu estiver vivo. Que venha a vida na esquina aonde eu paro.

sábado, 11 de setembro de 2010

Diálogo

por Gentil Pereira


Com o que escrevo, as pessoas ao lerem podem me interpretar erradamente. Cada um em seu lance de pensamento pode distorceu totalmente. O que eu faria? Tenho dois caminhos. Se eu não me preocupo com o que falam, me calo. Se me preocupo me viro para explicar. Mas qual é a atitude certa? Alimentar o erro ou desmancha-lo já na primeira conversa?

É por isso que casamentos e noivados e até namoros que poderiam dar muito certo se demancham logo no primeiro impasse. falta de dialogo. As brigas familiares e separações de irmãos se dão por isso. Falta de dialogo.

As mulheres são ressentidas com seus maridos porque muitas vezes quando são feridas, se calam ao inves de levantarem as vozes e protestarem. As grandes guerras em volta do globo se dão por falta de dialogos por meio dos lideres.

Até quando nossas crianças continuarão sendo maltradas pela sociedade? O dialogo para uma melhor convivência entre seres humanos é a melhor saida. Mas ainda não aprendemos a dialogar com nossos filhos, nossos pais e irmãos.

Aprendamos então. O dialogo é a melhor arma para a paz.

DEUS É SOBERANO

Dissipemos as inquietações. A Bíblia revela de forma inequívoca que Deus é o Criador do Universo e que tem todo o domínio sobre tudo o que existe. “Ao Senhor, o seu Deus, pertencem os céus e até os mais altos céus, a terra e tudo o que nela existe”. – Dt 10.14. “Tu, Senhor e Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra, e o poder, porque criaste todas as coisas, e por tua vontade elas existem e foram criadas”. – Ap 4.11.

Não há dúvidas que as Escrituras revelam que Ele possui atributos que o diferenciam fundamentalmente da sua criação. Ele é onipresente: “Para onde poderia escapar do teu Espírito?” – Sl 139. “Os olhos do Senhor estão em toda parte, observando atentamente os maus e bons”. Pv 15.3. Ele é onisciente porque não há nada que esteja fora do olhar divino: “Revela coisas profundas e ocultas e o que jaz nas trevas, e a luz habita com ele”. – Dn 2.22. Deus é onipotente: “Eu sou o Senhor, o Deus de toda humanidade. Há alguma coisa difícil demais para mim?” – Jr 32.27. Aliás, em diversas ocasiões, Deus é chamado de Todo-Poderoso: “Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, o que é, o que era e o que há de vir, o Todo Poderoso”. – Ap 1.8.

As Escrituras também mostram que em determinados momentos Deus exercita poder unilateral sobre a história, milagrosamente intervindo para mudar o curso das nações e, inclusive, predestinando alguns eventos muito antes que eles acontecessem: “Desde o início faço conhecido o fim, desde tempos remotos, o que virá. Digo: o meu propósito permanecerá em pé e farei tudo o que me agrada”. Is 46.10.

Devido à sua onipotência, Deus não será frustrado em seu propósito de ter para si uma “noiva” (a igreja). Ele garante que, no futuro, o universo estará livre da maldade e que sua glória encherá a terra. Quem negar essas verdades, nega a fé.

Além dessas revelações clara e repetidamente enfatizadas por toda a Bíblia, estabelecemos, obedecendo a lógica, que Deus não pode desfazer-se de nenhum de seus atributos divinos. Deus não teve “escolha” no que é. Ele sempre teve a si mesmo e sempre foi o que é (Eu sou o que sou), porque nunca houve um tempo quando começou. Deus não pode deixar de ser onipotente, nem de ser onisciente, onipresente ou de ser infinito. - 2Tm 2.13.

A Bíblia também revela de forma inequívoca que Deus é amor. – 1João 4.8. Portanto, a forma como ele se relaciona com sua criação foi uma decisão soberana dele. – Sl 103.13. Ele não desejou relacionar-se conosco de outro modo senão através do amor; objetivou um relacionamento em que os humanos fossem considerados com uma dignidade impar. “Pergunto: o que é o homem para que com ele te importes? E o filho do homem para que com ele te preocupes? Tu o fizeste um pouco menor do que os seres celestiais e o coroaste de glória e de honra. Tu o fizeste dominar sobre as obras das tuas mãos; sob os seus pés tudo puseste”. Sl 8.4-6. Rebemos de Deus, inclusive, um mandato para construirmos nossa própria história.

Dotados com a capacidade de pensar, sentir e decidir, os seres humanos foram criados para desfrutarem a intimidade do Deus Trino.- (O Catecismo de Westminster diz que fomos criados para “gozá-lo” para sempre). “... receberam o Espírito que os adota como filhos, por meio do qual clamamos ‘Aba, Pai’. O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus”. (Rm 8.15,16).

Assim, quando Deus criou seres humanos, dotados com a capacidade da razão, emoção, intuição, decisão e liberdade, Ele opta não agir como um déspota. O Deus bíblico não é parecido com deuses gregos e neoplatônicos do período Constantino e não lida com a humanidade como os reis medievais. Ed René Kivitz tratou dos parâmetros para que o amor se concretize em seu excelente “Vivendo com Propósitos” (Mundo Cristão, 2004):

“Nenhum relacionamento sobrevive sem a auto-imposição de limites, pois enquanto o eu for mais importante do que o relacionamento de amor, o relacionamento será utilizado para a satisfação do eu, portanto não será um relacionamento de amor. Comte-Sponville acredita que o amor divino (se é que Deus existe, diz ele) é um ato de diminuição, uma fraqueza, uma renúncia. Absorve o pensamento de Simone Weil que diz que: ‘a criação é da parte de Deus um ato não de expansão de sim, mas de retirada, de renúncia. Deus e todas as criaturas é menos do que Deus sozinho. Deus aceitou essa diminuição. Esvaziou-se de si uma parte do ser. Esvaziou-se já nesse ato de sua divindade. É por isso que João diz que o Cordeiro foi degolado já na constituição do mundo. Deus permitiu que existissem coisas diferentes Dele e valendo infinitamente menos que Ele. Pelo ato criador negou a si mesmo, como Cristo nos prescreveu nos negarmos a nós mesmos. Deus negou-se em nosso favor para nos dar a possibilidade de nos negar por Ele. As religiões que conceberam essa renúncia, essa distância voluntária, esse apagamento voluntário de Deus, sua ausência aparente e sua presença secreta aqui em baixo, essas religiões são a verdadeira religião, a tradução em diferentes línguas da grande Revelação. As religiões que representam a divindade como comandando em toda parte onde tenha o poder de fazê-lo são falsas. Mesmo que monoteístas, são idólatras’. Em outras palavras, um Deus que não se esvazia é um Diabo. Deus não age como tirano e não força seu poder para cima de suas criaturas sob pena de esmagá-las, tirando-lhes todo o espaço de liberdade de que precisam para existir. Deus não invade. Não usurpa. Não manipula”.

Depois de acompanhar o pensamento de Kivitz, continuo citando Comte-Sponville:

"Assim como Deus, que se 'esvaziou de sua divindade', como escreve Simone Weil, e é o que torna o mundo possível e a fé suportável. 'O verdadeiro Deus é o Deus concebido como não comandando em toda parte onde tenha o poder de fazê-lo. É o amor verdadeiro, ou antes, (pois os outros também são verdadeiros), o que há de divino, às vezes, no amor. O amor consente tudo e só comanda os que consentem em ser comandados. O amor é abdicação. Deus é abdicação. O amor é fraco: Deus é fraco, embora onipotente, pois é amor... Cumpre dizer que Deus é fraco e pequeno, e sem cessar moribundo entre dois ladrões pela vontade da mais insignificante polícia. Sempre perseguido, esbofeteado, humilhado; sempre vencido; sempre renascendo no terceiro dia. Daí o que Alain chamava de jansenismo, o qual explicava ele, 'se refugia num Deus oculto, de puro amor, ou de pura generosidade, como dizia Descartes; num Deus que só tem a dar espírito, num Deus absolutamente fraco e absolutamente proscrito, e que não serve, mas que, ao contrário, deve ser servido, e cujo reinado não chegou...' O amor é contrário da força, assim é o espírito de Cristo, assim é o espírito do Calvário: 'se ainda me falam de Deus onipotente, insiste Alain, 'respondo que é um Deus pagão, um Deus superado. O novo Deus é fraco crucificado, humilhado... Não digam que o espírito triunfará, que terá potência e vitória, guardas e prisões, enfim a coroa de ouro. Não... É a coroa de espinhos que ele terá. Essa fraqueza de Deus, ou essa divindade da fraqueza é uma idéia que Spinoza nunca teria tido, ao que tudo indica, que Aristóteles nunca teria tido, e que, no entanto, fala à nossa fragilidade, ao nosso cansaço, e mesmo a essa força em nós parece-me tão leve, tão rara, o pouco de amor verdadeiramente desinteressado de que às vezes somos capazes, ou de que acreditamos ser, ou de que sentimos, pelo menos, a nostalgia ou a exigência."

Chego a alguns corolários a partir desses pensamentos:

1. Quando falo de um Deus que soberanamente escolhe o jeito como se relacionará conosco, não estou procurando redefinir o Deus da Bíblia e sim os conceitos a seu respeito, da teologia que se contaminou com a filosofia grega - principalmente com o neoplatonismo, depois da constantinização e de Agostinho. Na verdade, quero afirmar que a revelação bíblica sobre o Deus Pai de Jesus não combina com as deduções teológicas neoplatônicas.

2. O conceito bíblico da perfeição de Jeová e de Jesus não se assemelha com a perfeição dos deuses gregos. O Deus bíblico não é impassivo ou desprovido de emoções: Ele lamenta: “Ali, nas nações para onde vocês tiverem sido levado cativos, aqueles que escaparem, se lembrarão de mim; lembrarão como fui entristecido por seus corações adúlteros, que se desviaram de mim”. Ez 6.9.-; Ele se alegra: “O Senhor, o seu Deus, está em seu meio, poderoso para salvar. Ele se regozijará em você; com seu amor a renovará, ele se regozijará em você com brados de alegria”. – Sf 3.7; Ele sente ciúmes: “Eles o irritaram com altares idólatras; com seus ídolos lhe provocaram ciúmes”. – Sl 78.58; Ele escolhe: “À medida que se aproximaram dele, a pedra viva – rejeitada pelos homens, mas escolhida por Deus e preciosa para ele”. 1Pe 2.4; Ele é misericordioso: “Quem é comparável a ti, ó Deus, que perdoas o pecado e esqueces a transgressão do remanescente da sua herança? Tu, que não permaneces irado para sempre, mas tens prazer em mostrar amor”. Mq 7.18.

3. Os gregos não concebiam a possibilidade de Deus mudar. Segundo eles, Deus não pode mudar por ser perfeito. Ora, a misericórdia só é possível de ser exercida se houver mudança no coração de quem a exerce. Aliás, misericórdia não exige mudança de quem é alvo dela e sim de quem a pratica. Há inúmeros exemplos bíblicos de que Deus mudou o que faria e tomou medidas até emergenciais, devido as ações humanas.

4. Devemos tomar o máximo cuidado para não tentarmos sustentar a visão neoplatônica de Deus, nos valendo do argumento antropomórfico quando lidamos com o seu caráter. Se afirmarmos que aquilo que a Bíblia fala sobre o caráter divino for um antropomorfismo, jogamos dúvida, inclusive, sobre o seu amor. Ficaríamos nos questionando: “Será que ele ama mesmo ou será que a revelação do amor é um mero antropomorfismo?”.

Deus soberanamente escolheu relacionar-se conosco, nos tratando com uma honra exclusiva. Para viabilizar esse relacionamento, Ele nos dá espaço e respeita nossos arbítrios. Concordo com Henri Nouwen, quando ele afirma que a encarnação sinaliza o desejo de Jeová de concretizar plenamente o propósito relacional: “Jesus é Deus conosco, Emanuel. O grande mistério de Deus ao se tornar humano é seu desejo de ser amado por nós. Ao se tornar uma criança vulnerável, completamente dependente de cuidado humano, Ele quer eliminar toda a distância entre o humano e o divino. Quem pode ter medo de uma pequena criança que precisa ser alimentada, cuidada, ensinada e guiada? Normalmente falamos de Deus como o Deus onipotente, Todo-Poderoso, de quem dependemos totalmente. Mas Ele quis se tornar o Deus não-onipotente, todo-vulnerável, que depende completamente de nós. Como podemos ter medo de um Deus que deseja ser "Deus conosco" e que nos tornemos ’Nós-com-Deus’?

C. S. Lewis escreveu assim em “Cristianismo Puro e Simples” – (ABU, p. 26):

"Os cristãos acreditam, então, que um poder do mal tornou-se por ora o Príncipe deste mundo. Isto suscita problemas, naturalmente. Será que este estado de coisas está de acordo como a vontade de Deus, ou não? Se está, podemos dizer que Ele é um Deus muito estranho; se não, como pode acontecer algo contra a vontade de um ser que tem poder absoluto?

Contudo, todo aquele já exerceu autoridade sabe que uma coisa pode estar de acordo com a sua vontade num certo sentido, e não estar em outro. Achamos que é muito sensato que uma mãe diga a seus filhos: "Não vou ficar vigiando e obrigando que arrumem o seu quarto todas as noites. Vocês devem aprender por si mesmos a deixá-los arrumado". Uma noite ela vai lá e vê o ursinho, as tintas e o livro de francês no chão. Isso é contra a sua vontade. Ela preferia que as crianças fossem ordeiras. Mas, por outro lado, foi por sua vontade que as crianças ficaram com liberdade para serem desordeiras.

O mesmo acontece em qualquer regimento, sindicato ou escola. Basta que uma coisa se torne voluntária para que a metade das pessoas não a faça. Assim, acontece de forma contrária à vontade de alguém; mas essa mesma vontade foi que permitiu que isso acontecesse. É provável que o mesmo tenha ocorrido no universo. Deus criou seres com o livre-arbítrio. Isso quer dizer que as criaturas podem agir bem ou mal. Alguns julgam que podem imaginar uma criatura que fosse livre, mas que não tivesse possibilidade de agir mal; eu não posso. Se uma coisa é livre para ser boa, também é livre para ser má. E o livre arbítrio foi o que tornou possível o mal.

Por que Deus deu então o livre arbítrio? Porque o livre-arbítrio, apesar de tornar o mal possível, é também a única coisa que faz com que todo amor, bondade e alegria valham a pena (o grifo é meu). Um mundo de autômatos, de criaturas que trabalhassem como máquinas, não valeria a pena ser criado. A felicidade que Deus destinou a suas criaturas superiores é a felicidade de serem livres e voluntariamente unidas com Ele e entre si mesmas, num êxtase de amor e prazer comparado com o qual o amor mais arrebatador neste mundo, entre um homem e uma mulher, não passa de uma coisa insípida. Mas para que isso aconteça, as criaturas têm que se livres".

Quero levar esses pensamentos de C. S. Lewis às últimas conseqüências:

1. Deus essencialmente nos criou para relacionamento. Ele, trindade perfeita, é eternamente relacional. Um dos principais atributos do amor é liberdade. Os relacionamentos só podem acontecer com liberdade real. Sem liberdade, qualquer relacionamento ou é coercitivo e, portanto, desprovido de qualquer valor, ou não existe.

2. Quando Deus nos criou, ele não podia gerar seres mais perfeitos do que ele, pois assim criaria deuses mais deuses do que Ele próprio. Não poderia formar um ser igual a si, pois assim criaria um par – Deus, por definição, é incriado. Ele nos formou seres menos perfeitos – somos finitos, mortais, limitados. Entretanto, possuímos capacidade de escolhas e com a real possibilidade de praticarmos o mal – por esse motivo o Cordeiro intencionalmente foi crucificado antes da fundação do mundo: a salvação precede à criação. Conhecendo o risco, Deus providenciou a cura.

3. Se Deus se dispunha criar seres livres, com a real possibilidade de praticarem o mal, ele estava autolimitando sua Soberania. Por que? Simplesmente porque agora conviveria com parceiros capazes de fazer novas escolhas. Mas essa decisão em nada diminui sua Soberania, porque foi uma decisão soberana sua.

4. Se nossas escolhas são reais e não um jogo manipulativo em que cumprimos um roteiro previamente escrito, podemos sim, optar por caminhos que frustrem ou sejam contrários à vontade divina. A Bíblia está repleta de exemplos em que as opções humanas contrariaram as expectativas, projetos ou desejos divinos. Por que quarenta anos perambulando no deserto? Por que escolher o fracassado Saul? O homicídio de Davi constava no roteiro? Por que os lamentos proféticos? O traficante que vende morte cumpre a vontade de Deus? A miséria que dizima milhões todos os anos, com certeza não cumpre nenhum propósito divino, mas é um sinal da queda e da rebelião humana. Os pedófilos e os estupradores não estão a serviço de Deus, mas a contrariar sua vontade.

5. Um projeto relacional implica em respeitar as decisões, inclusive as rebeldes. Não se impor por força, coerção, ou manipulação não sinaliza fraqueza, mas grandeza. Por esse motivo o Senhor exaltou a Cristo; ele sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Quem tem todo o poder e não se vale dele para ganhar o amor do próximo, não é um fraco e sim uma pessoa magnífica. Quando afirmamos que Deus abriu mão de controlar (ou micro gerenciar), não estamos subtraindo a grandeza de Deus e sim enaltecendo. Lavar os pés dos discípulos (inclusive de Judas) não é menos digno do que querer forçar uma nação a se ajoelhar aos seus pés, como tentou Nabucodonosor com sua imensa estátua.

6. A verdade mais linda do evangelho não é só que Jesus se parece com Deus, mas que Deus é exatamente igual a Jesus - nele habitou toda a plenitude divina. Então, quando contemplamos a fragilidade relacional de Jesus, isso não significa um antropormofismo, mas um teomorfismo. Jesus disse a Felipe, “quem vê a mim, vê o Pai”. Jesus foi totalmente humano e totalmente Deus – “Vero Homo e vero Deus”. Entendo que há dimensões da humanidade de Jesus que não podemos projetar no Pai. Quais? Sua limitação física, seu cansaço, sua fome de alimento, sua sede. Contudo, se observamos a humanidade de Jesus chorando sobre Jerusalém e dissermos que Deus é exatamente assim, não diminuímos em nada o Pai, mas o engrandecemos. Quando o contemplamos, abraçando as criancinhas, nele se encarna o amor do Pai. A fragilidade relacional de Jesus, de não querer seguidores por coerção ou suborno, estou convencido, é exatamente igual à de Jeová – igualmente expressas na Parábola do Filho Pródigo, quando coloca a cadeira na varanda e aguarda que o filho caia em si, no Cântico do Amado de Isaías 5 e em tantas outras passagens bíblicas que revelam o coração paterno de Deus.

Ricardo Gondim

domingo, 5 de setembro de 2010

Milagres acontece

A evolução teve que caminhar alguns bilhões de anos até produzir os sentidos corporais. Na verdade, é o universo que através destes sentidos começou a se olhar, a se sentir, a se tocar e a se ouvir a si mesmo. Mas quando surgiu o ser humano, esses sentidos ficaram conscientes e por isso espirituais. Por eles o universo se olha, canta e se extasia.

Tanto para os sentidos corporais quanto para os espirituais pode ocorrer aquilo que parece impossível. Tais coisas surgem daquele fundo abissal e misterioso de energia, do qual tudo procede e para o qual tudo retorna. Chamam-no de vácuo quântico ou, numa expressão mais feliz, de "Fonte alimentadora de todo o ser", outro nome para Deus.

Porque é assim, o impossível acontece, como comentou acertadamente, numa recente crônica, Carlos Heitor Cony, ou acontece o milagre como preferem dizer os cristãos. Vou contar um milagre comovedor.

Em 2003 visitei pela primeira vez a ilha de Fernando de Noronha, prova de que um pouco do paraiso terrenal ainda perdura. A população, em grande parte, cumpre o preceito divino dado a nossos pais originários, o de serem jardineiros e cuidadores daquela herança sagrada.

Encontrei Ana, uma professora primária, esposa de um pescador, que vendia bolinhos logo abaixo da igreja, para completar a renda familiar. Conversamos de como é importante cuidar das belezas de Noronha, educar os jovens para essa missão e obrigar os turistas a zelarem pelo lixo. Estabeleceu-se, de imediato, uma relação de grande cordialidade.

Ela tinha uma voz suave como a brisa que vinha do mar e seu olhar era terno como as areias finas da praia embaixo. Eu me animei e falei de como surgiram a Terra, os mares, as ilhas como Noronha. E ela escutava com brilho nos olhos como quem recebia uma mensagem esperada.

De repente disse: "Nós somos pequenos e humildes. Vocês são doutores e sabem tantas coisas que nós podemos aprender e nos encher de admiração". Minha companheira Márcia, educadora popular, retrucou, dizendo: "Ana, você também sabe coisas que nos fazem aprender e encher de encantamento". Foi então que ela se abriu e disse: "posso contar um milagre"? "Lógico, nós acreditamos em miliagres".

E então contou: "Foi o que Deus nos concedeu na semana santa de anos atrás. Em casa não tínhamos peixe nem água. O navio que devia trazer mantimentos não veio. Meu marido pescador há dias não conseguia pescar nada. Que iríamos comer na semana santa? Tínhamos só um pouquinho de espagueti. Foi então que eu e meu marido, preocupados, fomos ver o mar. Olhávamos um ao outro, tristes, pedindo a Deus que cuidasse de nós, pequenos e humildes. O mar estava calmo. Eis que de repente, se elevou uma onda grande. Bateu nas pedras.

E ao se retirar, ficaram milhares de sardinhas presas nas pedras. Eu tirei a anágua e a enchi de peixes. Fui correndo chamar meus quatro vizinhos, também pescadores. Ao chegarem, veio outra onda, trazendo ainda mais peixes. Todos encheram suas bacias e ainda sobrou peixe nas pedras. Deus escutou a prece dos pequenos e humildes".

E ainda há pessoas que não crêem em milagres porque não ativaram seus sentidos espirituais. Se os ativarem, vão descobrir muitos e muitos milagres em suas próprias vidas. Mas há uma condição: fazer-se pequeno e humilde como Ana e seu marido. Sai rezando ao Deus de Ana pedindo que me fizesse pequeno e humildade.Grande era Ana, pequeno era eu.

Por Frei Leonardo Boff

Fé em Deus

The God Delusion
Por Donald Miller

Meu mais recente esforço de fé não é do tipo intelectual. Eu realmente não faço mais isso. Mais cedo ou mais tarde você simplesmente descobre que há alguns caras que não acreditam em Deus e podem provar que ele não existe e alguns outros caras que acreditam em Deus e podem provar que ele existe - e a esse ponto a discussão já deixou há muito de ser sobre Deus e passou a ser sobre quem é mais inteligente; honestamente, não estou interessado nisso.

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Donald Miller é autor de Fé em Deus e pé na tábua, e Como os pinguins me ajudaram a entender Deus, ambos publicados pela Thomas Nelson Brasil.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Um Deus invisível

por Gentil Pereira

As más formações congênitas só me mostram como o ser humano tem errado no passar dos séculos. As más formações congênitas tem suas explicações científicas. Os culpados somos nós mesmos que temos mudado o bom desenvolvimento das coisas. Os alimentos tem sido transformados para melhor nos servirem, mas nisso há suas conseqüências. Os agrotóxicos estão aí transformando a genética de tudo.

Os remédios que as mulheres grávidas usam para formação óssea dos fetos na gestação tem feito milagres. Lembro do meu filho que saiu da maternidade enrolado e enrolado por um coero... Todos os dias era posto nele panos e panos pra ele ficar durinho. Parecia uma múmia. Ainda parece com 21 anos mas tá melhorando.

Minha sobrinha a Duda, nasceu e com três meses já ficava sentada. Com 5 meses já nascia dentinho e com oito já fala au-au, mama, papa,titi e me chama de fê...
deve ser feio ou alguma coisa assim.

Mas falando ainda da formação congênita. Alguém já foi em algum hospital público visitar crianças com esses problemas? Eu já fui... Não consegui visitar propriamente essas crianças mas as pessoas que cuidam delas são anjos. Elas dizem que foram transformadas depois que tiveram contato com esses tipos de problemas. Milagres existem, mas ao assumir essa postura de acreditar em milagres de certa forma, as pessoas que não acreditam abrem uma brecha enorme nos seus conceitos de existência.

Deus se fez invisível para se deixar acreditar. Ele não força sua existência a nem um ser humano. Desta forma ele nos dá a liberdade de escolha. Ele existe, mesmo eu não vendo. Para alguns Deus não existe porque o não vê, mas porque não o vê, ele não deixa de existir.


Que Deus nos ajude!