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sábado, 26 de junho de 2010

José Saramago: luto pela morte de um ateu

“Nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma... A morte de qualquer homem me diminui, porque estou envolvido na humanidade; e, portanto, nunca procuro saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”. Essa célebre frase foi escrita por John Donne, um dos maiores poetas de todos os tempos. Ela me veio à memória há poucos dias com a notícia da morte do escritor português e Nobel da literatura, José Saramago.

Saramago era ateu e comunista confesso. Nunca escondeu seu desprezo na crença em Deus, na Bíblia e na igreja. Escreveu livros e ensaios com críticas ácidas e ultrajantes à fé cristã, como o romance O Evangelho Segundo Jesus Cristo, no qual conta a história (estória) humanizada da vida de Jesus e alude a uma eventual relação com Maria Madalena, com quem, segundo Saramago, teria conhecido o amor da carne e nele se reconhecido homem. Em outro texto, ele escreveu: “Deus não é mais que um nome, nada mais que um nome, o nome que, por medo de morrer, lhe pusemos um dia e que viria a travar-nos o passo para uma humanização real. Em troca prometeram-nos paraísos e ameaçaram-nos com infernos, tão falsos uns como os outros, insultos descarados a uma inteligência e a um sentido comum que tanto trabalho nos deram a criar”. [1]

No livro Caim, lançado em 2009, Saramago voltou a atacar a religião, redimindo o protagonista do assassinato de Abel e apontando Deus como o autor intelectual do crime, ao desprezar, diz ele, o sacrifício que Caim Lhe havia oferecido. Em visita ao Brasil para o lançamento dessa obra, o escritor novamente em tom cínico disparou contra Deus. Conforme notícia do Estadão feita à época:

“José Saramago não considera esse romance seu particular e definitivo ajuste de contas com Deus, porque "as contas com Deus não são definitivas, mas sim com os homens que O inventaram", disse. "Deus, o demônio, o bem, o mal, tudo isso está em nossa cabeça, não no céu ou no inferno, que também inventamos. Não nos damos conta de que, tendo inventado Deus, imediatamente nos tornamos seus escravos", assinalou o autor.” [2]

Como se vê, Saramago era, em outras palavras, a versão aportuguesada de Richard Dawkins e Friedrich Nietzsche: um ateu que não media suas palavras contra a religião e Jesus Cristo. Alguém que escolheu deliberadamente virar as costas para o Criador e como uma criança dirigir-lhe insultos gratuitos ou, no máximo, baratos.

Com isso em mente, volto à frase de John Donne: “Nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma... A morte de qualquer homem me diminui, porque estou envolvido na humanidade...”

É uma ironia. Mas, Saramago resolveu viver como uma ilha. Isolado em Lanzarote, no arquipélago espanhol das Canárias. E por isso mesmo, pergunto: Será que a morte de um antiteísta distante, indigesto e raivoso como Saramago poderia me diminuir? Ou será que a sua passagem seria o motivo para reafirmar minhas convicções e mostrar com os dentes à mostra de felicidade que mais um ateu se foi e agora terá que pagar as contas com Aquele a quem tanto criticou (como muitos crentes fizeram nesses dias)?

Confesso que por um lado, insuflado pelo homem natural, gostaria de seguir essa segunda alternativa. Com um sorriso brilhante e com ar de vitorioso estampado em minha face, gostaria sinceramente de reafirmar o destino de Saramago: o inferno. E com isso ameaçar todos os demais que pretendem fazer o mesmo.

Olhando por outro ângulo, numa visão espiritual, tenho que reconhecer que a morte de Saramago me diminui. Tenho essa percepção ao olhar para a Bíblia e ver que a morte de alguém sem Cristo é algo terrível, isso porque aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo (Hb. 9.27); restando, então, uma certa expectação horrível de juízo e ardor de fogo (Hb. 10.27).

A morte de um ateu, como Saramago, me diminui porque tenho a certeza que por traz de toda aquela rompancia intelectual; escondida sob uma fina capa de aparência amarga e feroz existia uma alma que, no fundo no fundo clamava por Cristo. Um ser que ‘não sabia o que dizia’, enganado pelo ego e pelas vozes seculares, e que, infelizmente, morreu sem salvação. Estou, portanto, em luto com a morte de Saramago. Não porque o admirava ou porque existisse nele algo que despertasse minha atenção. Absolutamente não! Estou em luto porque, parafraseando John Donne, a morte de qualquer homem me diminui, afinal devo estar envolvido com a missão de levar todas as pessoas a Cristo, até mesmo os mais intransigentes. Portanto, os sinos também dobram por José Saramago.


por Valmir Nascimento

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