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domingo, 17 de outubro de 2010

Uma carta de um amigo

Recebi essa carta por e-mail e quero postar aqui para dar aos outros amigos uma noção das idéias trocadas, que muitas vezes nos enriquece... Um abraço a ti amigo.

"Olá amigo Gentil

Estive a ler um pouco do seu blogue. Surgiu-me uma dúvida. Como você tem
desbravado o novo mundo que se lhe apresenta pela frente? Ou como se tem
sentido com a ideia de existir mais vida para lá das paredes do templo?

Ao ver o seu percurso e de outros cristãos, ex-cristãos, novamente
cristãos, fico feliz. A religião quando vivida de modo aberto pode ter
um efeito de terapia poderoso (nem é a crença o importante, mas o modo
como se vive a mesma). Um pouco como a filosofia, apenas com a diferença
de que, na filosofia moderna se ter tentado, desviar rumo a um mundo de
"artificialidade lógica". Uma tentativa desesperada de responder às
questões milenares de modo "cientifico". Raios, como me aborrece os
filósofos pedantes, os que não conhecem senão o templo da academia...

Não sei se sou claro. Penso poder resumir: A religião ou a filosofia só
me são interessantes quando aberta ao mundo, em confronto saudável com a
diferença.
Entende?
Os religiosos cegos, na certitude das suas certezas, vivendo fechados em
suas comunidades, protegendo-se da heresia, não diferem em nada dos
"filósofos" fechados nas universidades, gritando; Filosofia é ciência, é
racionalidade hehe

Como humano, não estou isento de cometer os mesmos erros. Todavia, tento
todos os dias lembrar-me de que sou apenas um homem. Tenho dúvidas,
sempre as terei...

Abraço,"


Caro amigo Ricardo.

Tenho um gosto amargo na boca que se confunde com o gosto doce da vitória, lhe explico. No meu caminhar tive que pouco a pouco me desvencilhar de alguns tabus que me foram impostos. Me afastei quase totalmente daquilo que me poluia. A música evangelica, os livros evangelicos, os conceitos evangelicos.

Não foi fácil me despoluir de tudo que se dizia cristão em mim. Foi preciso. Caminho esse necessário para recomeçar tudo de novo. Ao olhar para os ateus me encantei com a perspicácia do questionamento. Hoje me sinto leve para viver a vida que Deus me deu para viver ao lado de minha esposa. Sem culpa caminho com os desafortunados. Algumas vezes fico triste por perceber muito mais que os outros, triste e com raiva.

Quando fala das paredes do templo e o templo da academia Ricardo, não sei porque, eu consigo lhe entender. Muitas vezes ficamos presos em um só foco e acabamos bitolados sem perceber que há algo muito mais sublime a frente dos nossos olhos. Sabe Ricardo, não tenho respostas para tudo e nem quero responder todas as questões do mundo, pois tudo isso é muito dolorido saber que no final sobrarão só carvão, fuligem de nossas idéias. Por isso hoje procuro simplesmente viver e caminhar ajudando uns e outros quando me procuram e me questionam.

Sou vitorioso. Olho para os meus pares e percebo neles um afã de ganhar o mundo, mas nessa corrida acabam perdendo a sí mesmo e até dizem que "o fim justificam o meio." Loucos. Não acredito nisso. E é dessa maneira que quero morrer, com meu caráter inabalável. Quem dera eu pudesse ganhar o mundo... riquezas, bens, poder e status. Mas a custa de quê? Muitos perdem filhos, o amor de sua mulher, o carinho de sua mãe, o abraço de seu pai, o beijo de um amigo.

Que Deus me livre da arrogância e prepotência, e na minha humildade encontre paz com os meus. Esse é um conselho que me dou todos os dias, pois sei que eu vou morrer e de mim ficará lembranças no coração dos que ficarem. Que elas sejam como um incentivo para os desvali-dos na vida que andaram sem propósitos e se perderam nos conceitos mais diversos sem darem conta que o que vale é o amor. Só o amor.

Dúvidas é o que não me falta. Mas procuro concilia-las com minhas crenças. Elas me fazem crescer.

Um abraço

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