Bem Vindo


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domingo, 7 de novembro de 2010

A felicidade sem segredos.

A maior busca do ser humano é da felicidade. Pascal dizia que até os suicidas se enforcam querendo ser felizes. Ninguém almeja a felicidade para ter dinheiro, mas ao contrário, corremos atrás do dinheiro para sermos felizes. Portanto, o fim último que elegemos para nossa existência e a felicidade.

Uma das maiores decepções que tive ao me converter foi imaginar que bastaria professar a fé cristã e automaticamente seria feliz. Descobri, ao longo dos anos, que muitos cristãos, na verdade, não são felizes.

Ouso acrescentar: Eu já vi pessoas não cristãs vivendo uma vida mais ajustada, mais redonda e mais plena do que muitos cristãos.

Os pastores e sacerdotes cristãos deveriam ser claros e honestos. Eles não podem mentir: a fé cristã não produz felicidade automática.

No esforço de acontecerem conversões, não precisa haver propaganda enganosa para seduzir as pessoas para a fé. Portanto, sejamos cândidos: muita propaganda evangélica é enganosa.

Num desses dias, um programa evangélico alardeava na mídia: “Se você está passando por dificuldades, se está vivendo um inferno, basta dizer sim para Jesus Cristo e você será feliz”. O pregador não se intimidava com suas declarações: “Deus está à sua disposição para lhe ajudar, basta você orar comigo e eu garanto, sua vida será mudada num piscar de olhos”.

Passar uma semana entre os crentes já é suficiente para constatar que isso não acontece. Existem inúmeras pessoas convertidas dentro das igrejas evangélicas com depressão, angustiadas, cheias de dúvidas, sufocadas por dívidas no cartão de crédito, ansiosas, irritadiças, insones e nervosas.

Repito. a pregação, “se converta e você será feliz” é falsa. As razões são diversas: primeiro, conversão não tem nada a ver com Deus resolvendo os nossos problemas instantaneamente. Converter-se é submeter nossa vontade à Sua soberana vontade.

Segundo, na conversão resolve-se o impasse relacional da criação. Deus decidiu nos criar, livres. Deus é trino e, portanto, relacional. Ele vive eternamente em uma comunidade tão única, que podemos afirmar que o Deus trino do cristianismo é só um. Pode-se dizer que nossa liberdade foi o preço que Deus se dispôs a pagar, por sua soberana decisão, para que pudéssemos amar.

Converter-se significa, portanto, que houve uma resposta humana para o toque divino da Graça que convida para esse relacionamento. O convertido é quem diz sim ao convite de Deus. Daí se inicia um relacionamento amoroso semelhante aos dos pais e filhos, amigos, noivos ou pastor e ovelhas. Conversão é aceitar que a vontade humana se alinhe à vontade de Deus, sempre com o propósito relacional de intimidade.

Depois que nossa vontade estiver sujeita à vontade dEle, começa uma caminhada ou um processo; Deus nos ensinará como transformar nossa história de perdição em vida plena.

Colocado de uma maneira bem coloquial, seria como se Deus afirmasse: “Bem, agora que você está comigo, deixe que eu lhe ensine como ser feliz.”

A diferença fundamental entre o cristão e o não cristão é que um se submeteu à vontade de Deus e agora dispõe da sabedoria divina para viabilizar a vida.

Entretanto, alguns podem ser cristãos, terem essa sabedoria à sua disposição e não saberem como utilizá-la. Seria como uma pessoa que passa sua existência sobre uma jazida de ouro, mas ignorante de sua realidade, nunca garimpa o tesouro que é seu.
Conheço um rapaz que herdou uma biblioteca de seu pai, mas nunca leu nenhum daqueles livros. Ele era filho de um dos homens mais cultos, porém um playboy; assim, jamais tocou em qualquer um tomo das estantes.

Houve um caso que abalou o mundo quando um avião, que transportava um time de futebol, caiu sobre os Andes. Os jovens ficaram ilhados na neve por vários dias com fome e com muita sede. Promoveram algumas expedições para procurar ajuda, mas nada encontraram. Famintos e desesperados, todos os sobreviventes acabaram praticando o canibalismo nos corpos dos que haviam morrido no acidente. Depois que foram resgatados, perceberam que haviam caminhado numa direção errada. Se tivesse tomado o caminho oposto, encontrariam uma casa com a despensa abarrotada de alimentos enlatados.

Jesus começou seu ministério com o sermão do Monte que sintetiza a Lei Áurea do Reino de Deus. Os capítulos cinco, seis e sete do Evangelho de Mateus resumem o núcleo fundamental de todo ensino de Cristo. Estes são os seus Estatutos fundamentais, sua Constituição maior.

Como o maior interesse de Deus é que desfrutemos da glória que ele desfruta na trindade. Como ele sabe que nossa maior ambição na vida é felicidade, Jesus Cristo começou seu sermão fundamental, ensinando como as pessoas podiam encontrar a verdadeira felicidade.

“Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus.
Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados.
Bem-aventurados os humildes, porque eles receberão a terra por herança.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos.
Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus.
Bem aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus.
Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês”. (Mateus 5.3-12).

Jesus Cristo foi cristalino no seu ensino: quem almejar ser feliz, precisa de três atitudes corretas: a) para consigo mesmo – sendo pobre de espírito, admitindo suas lágrimas, na humildade, e mantendo seu compromisso com a justiça; b) para com Deus – sendo misericordioso como Deus é, mantendo o coração puro, e sendo pacificador; c) para com o mundo que rodeia – estando disposto a sofrer pelo que crês, mantendo a integridade emocional mesmo sendo perseguido.

Vale insistir, mesmo com o prejuízo de parecer redundante: Jesus inicia seu ensino oferecendo algumas pistas de que a felicidade não acontece por acaso. Portanto, o caráter cristão precisará conter três ingredientes para produzir felicidade. O primeiro, diz respeito a essência do ser – humildade de Espírito, a habilidade de chorar, a mansidão, a fome e sede de justiça. O segundo, as expressões do ser – misericórdia, pureza de coração, promoção da paz. O terceiro, os compromissos do ser diante da adversidade, da perseguição e da injúria.

Portanto, a expressão “Bem-aventurados” – que significa "Felizes" – não é somente indicativa ou descritiva do verdadeiro cristão, mas imperativa.

O início do sermão do Monte não se constitui numa simples promessa, mas numa convocação e exortação. Jesus aponta o caminho para aqueles que quiserem realmente experimentar a felicidade. Seu ensino, em outras palavras, exorta as pessoas a se lembrarem sempre que, quanto mais próximas estiverem dos princípios expostos por ele, mais perto estarão de desfrutarem uma vida plena.

Jesus ensinou que felicidade não é fruto de só uma experiência, ela é resultado de uma jornada – um estilo de vida que se adota.

Vida abundante não se acha, ela é construída. Os bem-aventurados são chamados de "felizes" não porque passaram por uma experiência mística ou esotérica, mas porque viveram de tal maneira que a felicidade fluiu. Os valores do Reino de Deus produziram neles uma satisfação real.

Significa que felicidade não vem de fora para dentro, mas ela flui de dentro para fora. Um anjo não tocará ninguém para que seja feliz. Se houver uma intervenção angelical, ela servirá para revelar ou dotar a pessoa de forças para que pratiquem o necessário para encontrarem alegria eterna.

Pimentinha foi um personagem muito conhecido nas seções cômicas dos jornais. Certa vez, mostraram ele de joelhos na beira da cama fazendo uma prece: “Deus, por favor, transfira as vitaminas da cenoura para o sorvete”. Rimos de sua ingenuidade infantil. Porém, muitas vezes, oramos da mesma maneira. Queremos que Deus, por alguma mágica, transfira a felicidade celestial para nossas vidas.

Quando uma pessoa experimenta o poder da Graça, ela não sai de um estado de tristeza para um de alegria, no estalar dos dedos; apenas abandona a estrada que conduz à tristeza para outra que leva à felicidade. Contudo, alguns valores precisarão ser incorporados ao seu novo estilo de vida.

O sermão do Monte foi uma espécie de cartilha em que Jesus Cristo garantiu aos seus que, se buscassem o Reino de Deus e sua justiça em primeiro lugar, todos ingredientes que geram felicidade seriam acrescentados. Para Jesus, felicidade não é uma estação onde estacionamos, mas uma maneira de viajar.

A grande frustração que encontro em muitos cristãos é que esperam uma oração especial, uma profecia bombástica, uma visão sobrenatural, um arrebatamento espetacular para, de repente, entrarem em um estado perene de felicidade.

Os caminhos que levam a essa vida, passam por ações que são constantemente rejeitadas. Quem deseja preferir os outros, esvaziar-se da arrogância de enxergar-se como um semi-deus ou ser menos egocêntrico? A essência do cristianismo autêntico começa quando seus seguidores buscam se esvaziar dos próprios métodos para passarem a considerar os de Deus. Por isso: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus”.

Cristo foi direto: “aprenda a chorar, – a manter a alma terna, sensível, a não se auto justificar – Deus lhe dará o poder de se sentir frágil, dependente dele. Por isso: ”Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”.

Ele insiste num tema muito pouco popular: “queira ser manso”. Jesus entendia que mansidão significa abrir mão de reivindicar o que é seu, desistir de querer sempre ganhar; os mansos se submetem. Por isso: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra”.

Ele indica o caminho de viver com satisfação real: “ queira ser justo, ame o que é certo”. Em todos os atos, faça sempre a pergunta: “Será que é certo? Está direito? Isso é justo?”. Quem ama a justiça e tem desejo enorme de vê-la sendo praticada, será feliz. Por isso: “Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão fartos”.

Suas palavras ainda ecoam: “queira ser misericordioso para com os fracos; seja paciente com os que não conseguem alcançar seu padrão; seja compreensivo com os que se atrasam; com os que fracassam; com os que tropeçam em seus próprios erros”. Quem tem essa atitude para com os derrotados será feliz, porque no dia que precisar de compreensão para seus próprios erros, achará.

Ele convoca seus seguidores a serem coerentes na interioridade: “busque ser limpo de coração, e não permita que haja sombras, caminhos dobres, incoerências, hipocrisia, falsidade ou dolo”. Para Jesus, quem vive uma vida íntegra, será feliz. Sua declaração foi ousada: “os puros experimentarão a maior de todas as felicidades, eles verão a Deus”.

Jesus incentivou a concórdia e ordenou que se promovesse a paz: “não seja agente de cizânias, jamais catalise ódios, não suscite a vingança e não espalhe dissensão. Reconcilie os que se odeiam, reuna os diferentes, promova o amor e você será feliz”. Daí o texto: “os pacificadores serão chamados filhos de Deus”.

Ele aconselha que seus seguidores sejam pessoas de idéias nítidas, convicções sólidas, pontos de vista verdadeiros: “se essa postura trouxer o ódio alheio e se sua fé não for popular, continue sendo verdadeiro, a história premiou todos os que agiram assim. Os claudicantes, os pusilânimes, os covardes se perderam. Ninguém lembra o perseguidor, apenas os perseguidos são lembrados”. O texto diz: “bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e mentindo disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós”.

No verdadeiro cristianismo a felicidade não é circunstancial, ela depende dos conteúdos do caráter. Jesus ensinou aos seus discípulos que a pergunta essencial não é: “Isso me fará feliz?”, mas, “isso está certo”?

Todos nutrimos o conceito errôneo de que felicidade depende de circunstâncias. Ao contrário de Jesus Cristo, raramente fazemos uma correlação entre a felicidade e o caráter. Muitos vivem miseravelmente prometendo a si mesmos: “serei feliz no dia que mudar de casa, comprar um barco, terminar a faculdade, tiver um filho, os filhos se casarem, mudar de mulher, viver em Minas Gerais, construir uma casa em Porto de Galinhas ou viver em Miami”.

Devido a essa visão de que lugares, pessoas e oportunidades, produzem felicidade, não priorizamos a ética, a integridade e nem um compromisso com a justiça.

Infelizmente acabamos acreditando que a disciplina de uma vida íntegra não tem nada a ver com felicidade e sim com coleiras religiosas ou morais.

Durante todo o sermão da Montanha, Jesus não poupou seus discípulos. Ele ensinou alguns princípios fortíssimos. Há determinados trechos que a gente lê e diz: “Isso é muito difícil”!. Foi por esse motivo que ele iniciou afirmando: “Eu vou ensinar algumas coisas para vocês aparentemente muito difíceis, mas acreditem, os que praticarem serão bem-aventurados – ou felizes”.

O sermão inicial de Cristo ergueu-se sobre uma premissa bíblica: o que o homem ou a mulher plantar isso, certamente colherá. Não importa se a religião está sendo cerimonialmente cumprida: quem plantar vento, colherá tempestade; quem plantar ódio, colherá violência; quem plantar amor, colherá amizade; quem plantar vingança, colherá amargura; quem plantar fidelidade, colherá compromisso; quem plantar mentira, colherá traição; quem plantar verdade, colherá integridade.

O sermão da Montanha fornece princípios para os que buscam essa vida verdadeira e plena prometida por Jesus. O melhor é que ele próprio se propõe ajudar seus discípulos em cada passo do caminho.



por Ricardo Gondim

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